
Escutamos constantemente conversas sobre educação em vários níveis sociais, pois pelo que nos parece, todo mundo assim como no futebol tem uma receita ou algo a dizer, a melhorar e a acrescentar.
As manchetes do dia 12-11-10 registram mais um caso de violência contra professores nesse Brasil das igualdades sociais, desta vez, foi em Porto Alegre, uma professora teve seus braços e dentes quebrados em decorrência da agressão de um aluno descontente.
A autoridade do professor se não legal, pois o professor já não manda mais nada em sala de aula, pelo menos moral deveria imperar nesse tipo de relação professor - aluno.
O que conseguiu a professora no seu ato educativo foi apenas, como muitos outros, ficar indefesa a ação da agressividade do aluno, pois não foi instruida a lidar com técnicas de defesa pessoal ou evasão em caso de combate.
Nossa sociedade deixa de perceber a gravidade do problema de indisciplina em sala de aula, intolerância, falta de educação e até mesmo o animalismo primitivo que toma conta de nossas crianças e jovens durante a prática educativa.
Não entramos no mérito dessa violência ter sido gerada pela falta de orientação familiar, pela sua própria desestruturação, pela falta de valores sociais e humanos que vivenciamos hoje em dia, valores consistentes que deixaram de ser praticados e cobrados pelos responsáveis em amançar o ser humano predador antes de enviá-lo para o convívio e a interação social, onde regras são exigidas e deveriam ser respeitadas.
O caso é que está cada vez mais difícil trabalhar em sala de aula com pessoas que não dão a mínima para o que estão ouvindo e sequer se preocupam com o processo educativo ou o melhoramento individual.
A violência está crescendo nos bancos escolares e as políticas públicas não estão sendo sufientemente eficientes para tratar desse assunto de forma contundente e prática, ouve-se uma notícia aqui, outra alí, um comentário tornando o assunto insignificante, mas o fato é que precisamos estar conscientes do que nos espera no futuro.
Algumas crianças e adolescentes não querem nada com o saber, na sua maioria só cumprem expediente que lhes assegura espaço para estravasar suas energias e inquietudes, fazem na escola o que não podem fazer em casa e tratam todo mundo como peças de um tabuleiro em que jogam do jeito que lhes convém.
As crianças e jovens estão cada vez mais autônomos, fazem o que querem, do jeito que querem, a hora que querem, não respeitam autoridade, leis e seus próprios pais, então na escola seria diferente! Creio que não. Podem não concordar aqueles que só levam ou buscam seus filhos, aqueles que estão atrás de uma mesa planejando ações e legislações sobre como devemos ensinar e "encantar" o nosso aluno, não teríamos nós já esgotadas as alternativas para simplesmente poder praticar o que gostamos - lecionar!
A falta de hábitos e atitudes contribuem para que o ato educativo não deslanche, a indisciplina se torna cada vez mais evidente e atinja índices cada vez mais expressivos, pois a agressão, não só entre eles, mas contra os educadores é uma constante.
Não sou pessimista, pois acredito que a maioria está alí para aprender, mas suas dificuldades se tornam imensamente maiores frente a falta de conscientização daqueles que estragam a sala de aula e não permitem que o processo se instale, aqueles mesmos a quem a justiça obriga a ficar na escola em detrimento do direito dos que querem aprender.
A frase diz que "Lugar de criança é na escola", concordo em parte, pois deveria dizer " Lugar de criança que quer aprender é na escola" soaria mais justa e eficiente para um país que quer progredir e se tornar referência. Mas o que fazer com os outros? Por enquanto vire-se o professor!
Após várias reuniões sobre educação e ao mesmo tempo trabalhando no front, cara a cara com os alunos, comecei a questionar o porque da nossa educação ir mal e dos motivos reais para que ela não se concretize no país.
As famílias não estão conseguindo cumprir seu papel e passar as crianças e jovens a importância do processo educativo e do quanto é necessário para seu crescimento e desenvolvimento pessoal.
O que fazer quando chega um pai na escola e diz que não pode com a vida do filho, que não sabe o que fazer e que já está desanimado, quase deixando pra lá!
À escola, então, são atribuidas tarefas que estrapolam suas características fazendo-a o último recurso para correção e socialização dos indivíduos por ser uma referência na vida de qualquer pessoa. Pois é nela que desenvolvemos nossas potencialidades, que aprendemos a viver em sociedade, a dividir, a interagir, nossas amizades concretas surgem na escola, nossas referências muitas vezes estão alí, os modelos que devemos seguir e até mesmo aqueles que não queremos para nós.
A escola precisa transmitir conhecimentos, proporcionar um ambiente ludico para que o aluno, munido de força de vontade e persistência procure melhorar seu vocabulário, sua matemática, seus conhecimentos gerais e também pratique exercícios físicos.
O quanto será preciso para que a educação seja tratada de forma séria por todos que se dizem preocupados, começando pela família, ou na falta dessa, já que se encontra cada vez menos estruturada, pelo Estado como responsável pela manutenção de cidadãos críticos e operantes para o nosso país.
Vemos os professores se queixarem, tirando atestados médicos, em depressão e insatisfeitos com sua profissão, então fazer o que? Simplesmente deixar de lecionar, isso poderia resolver alguns problemas mas não é a solução. Precisamos assegurar aos nossos educadores, como qualquer categoria de trabalhadores condições de trabalho, equipamentos para que mentenham sua integridade física e psicológica, sob pena de ficarmos sem eles, que não são insubstituíveis mas que sem dúvida são os mediadores principais entre a barbárie e o civismo.
Qual é o nosso papel nesse processo? que tipo de cidadão queremos formar? Quanto perdemos em qualidade ao ter que manter em sala pessoas que não querem estar alí e que não permitem que os demais possam aprender?
Sabemos que existem legislações, por exemplo, aquela que proibe o uso de celular na escola, contudo quem é que faz esse controle, tem que ser o professor na sala de aula que irá se indispor com os alunos para que ele simplesmente obedeça as regras?
O que esperar de uma sociedade que não educa seus próprios filhos tornando-se permissiva na falta de interesse e do péssimo aproveitamento escolar, contribuindo dessa forma para que se percam valores e a própria cidadania!