Por alguns instantes percebi meus pés cortando o ar a frente dos meus olhos nessa manhã cinzenta de chuva, que apesar de já ter ido embora estava timidamente querendo voltar, talvez por ter deixado ali no piso da garagem, branquinho e de lajotas lisas o registro de sua passagem.
Estava cedo e como sempre corria para cumprir compromissos, filha pra cá, mochila da escola pra lá e é claro a sacola de brinquedos do dia, não podia esquecer ainda de lembrar o - Coma a torta de bolacha que a mamãe fez e que está na lancheira! Por derradeiro o beijo de tchau.
O cotidiano nos faz escravos do querer fazer tudo de uma vez, correndo, correndo. O tempo é a nossa moeda, implacável por nos deixar na mão simplesmente indo embora. A vida é uma corrida sem fim!
Queria só chegar a tempo no trabalho, essa mania do cobrar tudo, do fazer tudo e do ser eficiente.
Estava quase tudo dando certo, poucos metros de calçada me impediam de sair rodando, pneu do carro acelerado, mas quem dera tudo fosse simples, repetimos muitas vezes as mesmas ações, os mesmos trajetos, as mesmas palavras, enfim.
Quando aquaplanei meu pé esquerdo naquela calçada molhada percebi a incerteza do que estava errado, e num giro de 90º, talvez um pouquinho mais, senti a calçada acariciar minhas costas e uma dor daquelas na região do sentar, doía também um pouco a mão direita que prestimosa e ágil tentou impedir a batida sem eu perceber, então resvalei, caí e machucou! Como há muito não acontecia; alias minha última queda, pelo que lembro, foi na adolescência ao cair da garupa de uma bicicleta, nem lembrava mais disso, mas agora é tão clara a experiencia só que no lado inverso.
Fiquei pensando, filosofando talvez, do Por que caímos! Certamente só consegue cair quem está de pé, mas também esta situação me levou ao questionamento do quanto estamos desatentos, do que estamos fazendo, do quanto estamos correndo, atrasados ou estressados, de uma ponto para outro, num infinito emaranhado de vai e vem.
A lição do dia, se é que se pode tirar uma lição desse infortúnio é que precisamos desacelerar, não nos cobrar tanto, transferir atividades menos importantes da agenda, é preciso sim atenção ao presente, ao que estamos fazendo agora, do jeito que estamos fazendo e de como encaramos a vida para que possamos ter um futuro sem quedas ou lamentos.
Caímos enfim para levantar e reagir com quem sabe uma lição para que isso não mais se repetirá!